Diário Mademoiselle

Aquele com o fim do número 7

Naquela noite, seus pensamentos pararam de ecoar no quarto escuro. 


Já havia passado pouco mais de um mês em que nada fazia o eco de seus pensamentos deixa-la em paz. Era entrar no quarto e apagar a luz na tentativa de uma noite de sono reparador, para que o cômodo fosse inundado por ecos. Ecos são casos não solucionados e, tem vezes que é mais fácil conviver com eles do que tomar uma decisão definitiva que pode mudar o rumo da sua vida por inteiro. É, por inteiro. Mas, pera: já não tinha mudado? 
Naquela noite de enxaqueca e pensamentos gritando dentro dela, ela se deu conta de que sim, tudo já tinha mudado. Só faltava mesmo oficializar, virar a página, seguir em frente. Frente… tem tanta coisa lá na frente. Porque raios a gente tem medo? Segurança às vezes torna a gente um bando de bicho-preguiça, isso sim. Ai céus, to delirando de novo. Maldita enxaqueca.
Levantou, lavou novamente o rosto com água gelada, ligou o ventilador mais um pouco no quarto e foi até a cozinha, tomar água. Há 7 anos, ela faria o que? Há 7 anos ela não teria esperado. 
Mas esperou. 7 anos. 
Como é maravilhoso e doloroso olhar pra trás: você percebe que crescer é cada vez mais complicado mas acha beleza em cada detalhe besta… tipo: 
– quem mais você conhece que andava 5km por dia para ter uma chance de talvez uma conversa para quem sabe ter uma oportunidade de se fazer notar? 
– quem mais você conhece que mudou a rota de casa, a rotina musical, o foco da dissertação, a rotina de exercícios, a forma de lidar com dinheiro e até largou um vício do dia pra noite, só pra conseguir um objetivo?? 
Ali, no mundinho dela, ela só conhecia uma pessoa assim: a que estava segurando trêmula aquele copo d’água. 
Foi então que sua ficha caiu. Tava mais do que na hora. Hora de encerrar o que havia começado. Ela quis, ela foi atrás, ela conseguiu e agora, ela tinha que escrever aquele ponto final. Só ela podia fazer isso. E aquela história, merecia um fim digno de todas as suas páginas – muitas delas, que ela nunca havia sequer pensado em dividir. 
Sentou com o computador no colo, em sua poltrona de “estimação” e ali escreveu do fundo do coração tudo que precisava escrever. Era a última vez que ele teria acesso ao seu coração e ela foi franca como sempre havia sido naqueles 7 anos. Ao final, um pedido: se acha que vale a pena lutar, lute. Ela ainda está ali, o trem ainda não chegou, ainda há tempo. 
Mas o tempo, passou. 
Acho que a pior parte de olhar pra trás é ver o quanto conseguimos suportar. O quanto temos de limite. O quanto temos de força. E ao olhar para aquela menina, determinada e ferida, eu sentia orgulho dela. De seu brio e de sua determinação. De seu poder de começar e de sua garra para terminar aquilo. Ela sobreviveria. Não sem arranhões, é claro. Mas sobreviveria a mais esse fim de capítulo. 
Ela tinha colocado o ponto final no capítulo 7.  
Naquela noite, seus pensamentos pararam de ecoar no quarto escuro. 
Naquela noite, a dor de cabeça abrandou. Uma leve brisa entrou pela janela e a embalou na primeira noite de sono reparador em muito tempo. Naquela noite, o silêncio a ninou e a conduziu para o próximo capítulo. E ela estaria – quem sabe – pronta, ao acordar…. 

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