Eu queria ter escrito esse post no sábado. A noite. De cabeça quente e taça de vinho em punho. Porque escrever sempre foi a melhor forma de me acalmar. De expressar todo o sentimento. De calar a dor. De expulsar o mal-estar. Mas resolvi me concentrar em mim. Em tentar digerir mais esse soco no estômago. Em curar as feridas e deixar a raiva secar. E agora, que tudo que me resta são as dores que esse “soco” deixou, achei por bem que podia escrever. Agora não não era mais veneno e ódio. Tudo havia se transformado em desapontamento e dor. E com isso, consigo lidar. Eu acho…
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No último sábado eu acordei me sentindo meio indisposta. Meio melancólica. Meio querendo ficar num casulo. Mas não era o cenário desenhado na ocasião. O namorado ia viajar e eu precisava correr com coisas de trabalho. Então, me joguei pra fora da cama, tomei um banho e me pus na rua. Depois de me despedir do Edu, segui para uma longa tarde colocando trabalhos em dia. Correndo com as coisas que o relógio me venceu na semana. Mas fui interceptada no caminho de meus planos. Um assalto. Algumas pessoas podem dizer “ah tá, mais um”. Não foi a primeira vez que aconteceu comigo. Aliás fazia um bom tempo que graças aos céus não me acontecia nada. Mas a vida por aqui anda louca e a violência anda solta por aí. Cada momento é um eco. Creio que não importa o quanto você se prepare ou se previna. Caso aconteça, o baque é tão forte que você paralisa. Ninguém consegue prever uma reação. Ninguém consegue levar como só mais um acontecimento ruim. Pois a violência causa marcas invisíveis que são mais dolorosas até do que alguns cortes e socos. A pele cicatriza e com o tempo deixa de doer. O medo, o choque, o trauma. Você sente o coração disparar se se percebe naquele local novamente. Ecos torturam seus ouvidos. Deitar a cabeça no travesseiro significa reviver o acontecido. As pessoas ao seu redor, curiosas e assustadas, querem todos os detalhes para que possam aprender com você e tentar evitar situações semelhantes. Mas esse processo de contar o ocorrido, primeiro na delegacia, depois na sua operadora, depois no seguro, depois para os familiares, depois para os amigos.. isso tudo faz com que a situação se fixe ainda mais na sua mente. E isso acaba afetando sua alma, seu humor e todo seu jeito de encarar o dia a dia. O processo de cura da alma é mais lento, precisa de mais cuidados. Mas as feridas despertam na gente a vontade de mudar. Mudar de ares, buscar tranquilidade. Sempre disse que não queria ter filhos e um dos maiores motivos tá aí, nessa violência toda espalhada no mundo. Não suportaria a ideia de um filho meu sendo agredido, violentado, morto. E rezo por cada mãe que já passou ou passa por uma situação dessas.
O mundo anda muito complicado. E tem pouca gente querendo fazer o “tudo por você”. : /
E é aí, que o medo ganha força. E viramos reféns de nós mesmos. Começamos a evitar, a repensar, a recusar. Deixamos de viver, para proteger nossas vidas. Colocamos grades nas janelas, travas nas portas, senhas de acesso em todos os equipamentos eletrônicos. As vezes, consideramos não comprar um determinado bem com medo de nos ser tomado. E se compramos, pesquisamos seguros e meios de nos convencer de que será menos traumatizante sair com aquele objeto nas ruas. Nos proibimos de tirar uma sonequinha no ônibus a caminho da casa dos nossos pais pois alguém mais desperto pode nos passar a perna. Pois quem dorme no ponto é mané. Opa. Espera um pouco. O cara que dorme é mané ou o cara que rouba descaradamente é invasivo e mau caráter?
Medo de sair. Medo de ficar. Medo de dormir. Medo de acordar. Medo de viver. Medo de morrer. M E D O.
Foto: We Heart It
2 Comments
Oficina Chic
8 de outubro de 2013 at 16:00Ótimo post! Gostei!
Beijo
Camilla
8 de outubro de 2013 at 18:08Obrigada! : )
Beijinhos