Viagem

Diário de Bordo: O Dia do Embarque

O domingo que embarcaríamos mal havia amanhecido e eu já estava de pé. Não há despertador melhor que a ansiedade. Pelo menos a minha. [risos] O calor já se fazia presente, chegou antes do sol e deixou o quarto abafado. Então, com cuidado para não fazer barulho, abri a porta da varanda do quarto e senti a brisa do romper da aurora me tocar o rosto. Fiquei ali por alguns instantes me refrescando com aquela brisa suave, antes de me dirigir ao banheiro. Já de rosto lavado e dentes escovados, comecei a pensar no que faltava fechar nas malas para podermos partir. Como eram apenas coisas de uso pessoal como escova de dentes, shampoo e afins, fiquei mais tranquila e me deitei um pouco na rede. Consegui dormir por mais duas horas, despertando as 7 da manhã, com o sol já queimando meu rosto. Decidi que não dormiria mais e fui cuidar de tomar café, um bom banho e escolher a roupa do embarque. O calor estava tamanho que optei por bermudinha (com bolsos) e regata. Nos pés, um bom chinelo. Total conforto afinal, depois do check-in quem sabe não rolava um pulo na piscina para estreiar bem a viagem? Era o que eu imaginava….
Saímos da casa dos pais de Edu por volta das 11h30 da manhã, após montar o quebra-cabeça das malas no porta-malas do carro. Ao nos aproximarmos do Porto de Santos, por volta do 12h o primeiro contratempo: um trânsito de deixar São Paulo no chinelo. Ok, respira fundo e vai. Conseguimos sair do carro na área de desembarque às 12h45 e já logo despachamos a maioria das malas. Felizes e mais leves fomos procurar nosso local de check-in, já que naquele domingo 4 navios diferentes (Empress, MSC Magnífica, Costa Fascinosa e o meu, o Splendour of the Seas) estavam saindo do porto e o terminal de passageiros estava super lotado. Demos umas 4 voltas no terminal de passageiros antes de encontrarmos a fila correta. Fila quilométrica, eu diria. Um suspiro de choque ao imaginar quanto tempo demoraria o check-in, outro de felicidade pois por mais que demorasse, iríamos dali a algumas horas estar felizes e contentes dentro do navio. Primeiro incômodo: a alça da minha frasqueira arrebentou com poucos minutos de fila. E dali por diante foi horrível carregá-la. 
Sorria! Você está embarcando! – eu pensei. 
Foram mais de três horas de fila em que preenchemos o formulário de embarque e Edu também preencheu um documento para poder embarcar sem o passaporte (com o RG apenas). Optamos por não vincular nossos cartões de crédito à cabine, assim poderíamos ter um pouco mais de controle dos nossos gastos extras a bordo. Isso pode ser feito informando no ato do check-in seu desejo de pagar sua conta em dinheiro. Você pode pagar em reais (o câmbio é feito na hora), dividir no cartão de crédito ou até pagar direto em dólar. Compensa pra quem gosta de controlar mais de perto as contas para não fazer dívidas desnecessárias. ; )
Chegamos ao balcão de check-in por volta de 16h30 e foi nesse momento que eu quase infartei. Edu estava sendo impedido de embarcar devido à documentação errada. 

IMPORTANTE

Para qualquer tipo de viagem internacional, mesmo que para países do Mercosul, você só pode ir de navio se estiver portando o seu RG original (emitido pela Polícia Federal) ou seu Passaporte. Qualquer outro documento de identificação válido em território nacional como xerox autenticada de RG, RG com mais de 10 anos, habilitação de motorista ou carteira profissional (CREA, OAB, MTB e afins) não é aceito para o embarque. 

Lágrimas, tristeza e desespero. A cabeça dava voltas. Sim, eu surtei internamente. Fiquei quieta na minha enquanto Edu conversava com os supervisores do Concais e confesso que o surto foi tanto que até deixei de ouvir em determinado momento. Fui trazida a realidade quando a supervisora de embarque disse: 

– O senhor não embarca em Santos de jeito nenhum. Aconselho que busque seu passaporte e/ou regularize seu RG e pegue um voo até o próximo porto para encontrá-la. Caso ela (eu!) não embarque, os dois perdem a viagem e o valor investido pois nada mais podemos fazer.
Ok, decidimos que eu embarcaria e que ele daria algum jeito de estar no Porto de Punta del Leste na terça-feira. Foi um balde d’água fria que eu não conseguia assimilar. Ainda estava em choque. Me lembro de olhar profundamente nos olhos de Edu para ver se ele realmente ia me encontrar ou se estava só querendo que eu embarcasse para que eu não perdesse a viagem como ele havia perdido. Recebi meu cartão de embarque e me despedi dele sem ter certeza se nos encontraríamos mesmo dali dois dias. 

Fui a última passageira a embarcar, por volta de 17h15. Fui direto até a minha cabine para conferir se estava tudo ok com nossas malas já que no stress do check-in a mulher havia mandado devolver e não devolver as malas ao porto umas 4 vezes. Deu erro no meu cartão e eu não consegui entrar. 

Êta domingo maravilhoso! – pensei. E me dirigi imediatamente ao balcão de serviços aos hóspedes. 
Ao finalmente conseguir entrar na cabine fiquei aliviada em ver nossas malas por lá e fui recebida por nossa camareira, Giovanna, com muita fofura. Lavei o rosto, arrumei algumas coisas na cabine e subi para ver o navio partir. Um nó na garganta me acompanhava a cada deck que eu subia e ele finalmente tomou conta de quase todo meu corpo ao chegar no convés. O navio já estava partindo, passando pela cidade de Santos e com muita música e festa para os passageiros. Encontrei uma brecha na frente do navio e fiquei observando. Quando não consegui mais ver terra por nenhum lado, achei que era hora de um drink. 
No bar do Centrum, no deck 4, uma bandinha animava o fim de tarde com jazz. Achei propício ao meu humor, pedi um Champagne Cosmo e sentei pra conferir um pouco do show e ver se os pensamentos atordoados das últimas horas me deixavam um pouco. 

Após alguns cosmos e uma consulta ao relógio, achei que já era mais do que hora de ir para a cabine tomar um banho e me arrumar para o jantar. O navio balançava consideravelmente e eu até achei que estivesse enjoando (ou embriagando). Portanto, me recolhi.

Vertigem, a gente vê por aqui. 
Cheguei no quarto por volta de 19h30 e resolvi desfazer as malas antes de me arrumar. Feito isso, mesmo após um banho relaxante com direito a luz baixa e música calminha, eu não estava tranquila. Ou seja, não tava no mood de uma super produção pra jantar. Chequei o planejamento diário e fiquei feliz ao ver que o tema da noite era informal. Escolhi uma bermudinha preta e uma blusa preta um pouquinho brilhosa. Sapatilha baixinha pra aguentar o vai e vem do navio (como balança esse mar do sul!) e tiara nos cabelos para não me preocupar com eles. Lá vamos nós, dia de jantar sozinha. Pensei. 

Antes do jantar, a programação do dia contemplava um show de aéreo no Teatro 42th Street, localizado no Deck 4. Já pronta para a noite e com mais um cosmo em mãos, lá fui eu.
O show foi lindo mas, o teatro é localizado em uma das pontas do navio o que garantiu um balanço natural aos assentos. Eu que já estava num mal-estar danado, vi só um pedaço e me retirei antes que algo de mais grave ocorresse. Uma pena, pensei. Mas eu nunca tinha enjoado em alto mar antes e queria manter esse histórico intacto. Portanto, out of the theater!
No SeaPass (cartão que nos acompanha durante toda a viagem, serve para compras, entrar e sair do navio e também é chave da cabine) a gente recebe a informação do horário do jantar, o restaurante e também o número da mesa. No caso, o restaurante que jantaríamos era o “The King and I”, localizado nos decks 4 e 5. Eu que sou amante dos musicais, derramei uma lágrima de emoção ao ver um restaurante todo decorado com o tema do filme. Ao encontrar minha mesa, me surpreendi. Era enorme, para 10 pessoas. E eu era a primeira a chegar. Fui recebida pelo nosso garçon, o Luccheo, um indiano muito simpático e gentil. E também pela Jenifer, a assistente dele, que era brasileira e iria nos ajudar com as bebidas. Juntaram-se então a mim, uma família muito simpática de coreanos e um casal de brasileiros. Fomos avisados que cada jantar teria uma inspiração para o chef, e que ela seria descrita no nosso menú de cada dia. A do domingo, era a Pimenta.

Ao receber o pãozinho da entrada, eu me descobri: não era enjoo, muito menos embriaguez. Era fome! Foi então que percebi que, eram mais 22h e eu só havia comido aquele café da manhã, ainda na casa dos pais de Edu, bem cedo! Nunca um pãozinho com manteiga me fez tanto bem. Devorei! Escolhi para entrada uma Salada Ceasar, básica. E para o prato principal uma deliciosa Lasagna ao Forno. Confort food para uma pobre menina exausta e faminta. Pois era como eu me sentia, agora que aquele pãozinho me havia aberto o apetite. Para beber, uma taça de vinho, francês (óóóóbvio pois era o mínimo que eu merecia pra ficar um pouco mais feliz, risos): Réserve St. Martin, Languedoc. Para sobremesa, algo que eles chamaram de Sensação de Chocolate. E que eu escolhi simplesmente por ter chocolate. 
– Na verdade, eu queria um pote de brigadeiro pra comer de colher. Como não tem, vai o que tiver mais chocolate do menú. – pensei. 

Confesso que até por conta do meu estado de espírito, o jantar foi silencioso. Conversei um pouco com as famílias mas, ficou ainda aquele joguinho de ilha de cada um na sua. Mas posso dizer que meu jantar, no quesito comida, foi maravilhoso. Certamente eu repetiria, se pudesse. Saí e fui logo dar uma volta no convés, ver como estava a noite. Já eram mais de meia-noite e ventava muito mas, mesmo assim, o tempo estava fresco e gostoso para uma caminhada. Andei com meus pensamentos por uns minutos até o sono chegar. Então resolvi que era hora de dormir. No caminho para a cabine, vi que rolava uma festa dos anos 80, no Centrum, aquele do jazz de mais cedo. Todas as músicas que eu amava estavam tocando e o povo dançava animado junto com a banda. Mas o sono já havia me fisgado. Acompanhei uma música do alto, e finalmente, fui dormir.

Fotos: Mademoiselle Paris
[ Continua… 😉 ]

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Sem Comentários

  • Reply
    Thayse Stein
    16 de janeiro de 2014 at 23:15

    Ai que aflição essa confusão toda! Mas ainda bem que essas delícia deram uma animada em você! As fotos ficaram lindas e o post super completo <3


    Beijos
    Brilho de Aluguel

  • Reply
    Camilla
    19 de janeiro de 2014 at 14:56

    Obrigada Thayse! <3

    Beijinhos!

  • Reply
    Gust@vo G@lo
    11 de fevereiro de 2014 at 00:34

    Este comentário foi removido pelo autor.

  • Reply
    Gust@vo G@lo
    11 de fevereiro de 2014 at 00:38

    Oi Camilla! Curtindo seu relato dobre o navio e tirando várias dúvidas!!! Mas tenho algumas ainda e já embarco no dia 16/02. Será que sana-las? rs. Não encontrei informações certas sobre o pagamento em dinheiros das despesas internas, efetuamos um pré-pagamento no embarque? Existe valor minimo para esse pré-pagamento? Qual o valor em média dos drinks? Quanto ao documento do seu companheiro, foi erro no documento dele? Ou na reserva do cruzeiro? Minha agência fez um erro na validade do documento, e não conseguiram arrumar, mas segundo eles, não teremos problema. Disseram que o maior impecilho é a validade mesmo do RG, não pode exceder os 10 anos de emissão. Bom, acho q é isso. Grato
    Abraço

  • Reply
    Camilla
    11 de fevereiro de 2014 at 22:31

    Oi Gustavo! Posso tentar! hehehe
    Olha, quanto ao pagamento das despesas internas você pode cadastrar seu cartão para que eles debitem imediatamente e você não tenha nenhum trabalho ou você pode optar por pagar em dinheiro. Nesse caso o que me explicaram é que fica liberado um valor inicial de U$300 e que você precisa ir até o Guest Service se quiser aumentar o limite do seu crédito no Sea Pass. Você não paga nada antes, só na véspera do desembarque mesmo! Mas nesse caso eu aconselho a não perder a mão ou a levar bastante dinheiro vivo pois sacar do cartão de crédito tem taxas muito altas e acabam não compensando. Mas o pagamento em dinheiro no meu caso foi bem tranquilo. E eu achei mil vezes melhor pois não voltei com ~~dívidas~~ da viagem. rs
    Quantos aos drinks.. bom, depende de quanto você bebe e do que você gosta de beber. O navio geralmente oferece algumas opções de pacotes de bebidas que quem curte beber se beneficia. No meu caso, eu não bebo muito e saía mais em conta pagar avulso, a medida que eu fosse querendo beber algo diferente. Vale lembrar que água e sucos são free e disponíveis em todos os bares e restaurantes. E que refrigerantes estão inclusos nas refeições (almoço e jantar).
    A média do que eu tomei? Bom, o vinho saiu em média U$8 a taça e eu pude escolher um francês que eu já gostava. Ah! Os bares tem geralmente uma promoção de drink do dia! Na minha viagem, o drink do dia sempre custava U$6.75 e vinha acompanhado de um copo especial que o passageiro podia ficar como lembrança. Compensa de acaba te fazendo provar coisas novas, na minha opinião. A carta de cervejas era bem boa mas, acabei não provando a bordo por preferir outros drinks.
    Já sobre o documento, o que aconteceu com meu namorado foi que ele levou apenas o RG profissional e estava sem o passaporte. O RG tem de ser o original, emitido pela polícia federal e tem sim que ser o mais atual possível. A validade máxima é de 10 anos como você mencionou mas, eu não arriscaria. De qualquer forma, por segurança, eu aconselho levar o passaporte. 🙂

    Espero ter ajudado e que você faça uma deliciosa viagem!
    Conte-me depois suas impressões! 😉

    Beijinhos

  • Reply
    Anônimo
    5 de março de 2014 at 04:28

    Oii, pq seu marido nao embarcou? Estou preocupada, meu marido esta com rg vencido e embarcamos no domingo

  • Reply
    Camilla
    5 de março de 2014 at 05:11

    Oi! Ele não embarcou por estar sem o passaporte e com o RG profissional apenas. Certifique-se de levar o passaporte do seu marido, já que o RG está fora da validade e sairá tudo bem. 😉 Estou na torcida!

    Boa sorte e boa viagem!

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